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sábado, 2 de janeiro de 2010

Banho de Sol - Reveja seus erros


Como mudar hábitos de risco para uma temporada ao sol mais saudável


O conhecimento dos malefícios do sol não foi acompanhado, conforme o esperado, da redução dos casos de câncer de pele. Pelo contrário, nas últimas décadas a escalada da incidência foi tão acentuada que este se tornou o tumor mais frequente na população, especialmente entre gaúchos e catarinenses.


Na última campanha da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em dezembro, 10% das 2.490 pessoas que procuraram o atendimento gratuito no Rio Grande do Sul tinham lesões suspeitas e foram encaminhadas para avaliação médica. Esse percentual se mantém sem sinais de queda.


– Embora toda a informação sobre os riscos da exposição excessiva ao sol, a incidência de câncer de pele não vem diminuindo, o que épreocupante – avalia a coordenadora da campanha no Estado, a dermatologista Berenice Capra.

O gaúcho tem características que o tornam particularmente mais suscetível. A primeira delas é a descendência europeia. Pessoas de pele branca estão mais propensas a sofrer queimaduras solares, que estão na origem do câncer, porque têm uma menor proteção natural, conferida pela pigmentação da pele. A segunda é uma combinação de clima com comportamento. Até meados da década de 30, o chique era ter pele clara e cobrir o corpo o máximo possível, inclusive na praia. Em menos de 70 anos, o padrão de beleza se inverteu. O elegante é ficar bronzeado, e os trajes de banho se tornaram sumários. Os gaúchos acompanharam a tendência mundial, com uma desvantagem. O hábito de torrar no sol durante o verão e permanecer branco na maior parte do ano é mais prejudicial do que pequenas quantidades de sol diário de janeiro a dezembro.


– Cerca de 80% da radiação maléfica para a pele, a que envelhece, provoca câncer e manchas, são recebidos antes dos 20 anos. O câncer da pele aos 40 anos teve início lá na infância, é cumulativo – explica o dermatologista Lúcio Bakos.


Médicos contam hoje com equipamentos que examinam manchas e sinais suspeitos sem precisar de cirurgia. Mas eles não são os únicos aliados. A mulher é protagonista no combate à doença. Segundo o doutor em Dermatologia Humberto Antônio Ponzio, estudos revelam que é ela quem primeiro detecta um sinal do pior câncer de pele, o melanoma, em si própria, depois é o médico e, em terceiro lugar, o marido. Quando o sinal suspeito é no marido, a ordem de detecção é a mesma.


O Caderno Vida ouviu cinco dermatologistas e um cirurgião especializado em melanoma para saber quais os pecados que as pessoas mais cometem sob o sol – e como garantir a absolvição.


1 Usar pouco filtro solar porque provoca espinhas
Filtro solar pode dar espinha, sim. Uma pessoa sem acne pode até desenvolver o problema ao usar protetores. Mas isso somente ocorre nos casos em que o produto é contraindicado ao tipo de pele. Pessoas de pele oleosa não podem usar cremes ou loções gordurosos e devem apelar aos chamados oil free.


– O mais comum é a pessoa achar que tem a pele resistente quando não tem ou que tem a pele seca quando ela é normal. Esses erros levam não só a usar filtros errados como a expor a pele a queimaduras sem saber que elas jamais se bronzearão, como é o caso das pessoas ruivas – alerta Humberto Antônio Ponzio.


Uma consulta ao dermatologista é suficiente para tirar suas dúvidas. Em geral, os protetores que atendem aos tipos de pele específicos são mais caros que os destinados para a pele normal. Mas para ficar imune às espinhas e a eventuais alergias que possam surgir, sempre vale a pena gastar mais.


2 Pegar sol para melhorar a acne
É fato. O sol melhora o aspecto da acne do rosto porque simula um efeito bactericida, de secar a inflamação. Mas não se engane: a melhora é efêmera, e o problema piorará após a exposição.


– O sol provoca hiperqueratose, o espessamento das células mortas. O problema contribui com as causas da acne, aumentando o aparecimento das espinhas tempo depois de se expor ao sol – diz a dermatologista do Hospital Moinhos de Vento Márcia Donadussi.


Para quem tem espinhas nas costas, o efeito do bronzeado é sempre maléfico. Sérgio Celia, dermatologista do Hospital São Lucas da PUCRS, explica que secar a pele o sol aumenta sua espessura, o que causa o entupimento dos folículos e o agravamento da acne. Mas os efeitos podem ser amenizados se for respeitada a regra de se bronzear gradativamente, fora do horário das 11h às 16h e com filtro solar aplicado abundantemente a cada duas horas ou após o mergulho.


– Não há problema em se bronzear dessa forma. Sempre costumo dizer que o tamanho da sua sombra é o tamanho da sua proteção. Deve-se ir à praia quando a sombra está grande – recomenda Sérgio Celia.


3 Não acertar na escolha do protetor

Grande parte da população escolhe os filtros pelo fator de proteção solar (FPS), sigla que indica o grau de proteção aos raios ultravioletas do tipo B (UVB), o principal causador do câncer de pele e das queimaduras. Mas o FPS não é o único indicador de proteção. A radiação UVA, incidente sobre a terra do raiar ao pôr do sol, é igualmente nociva, o que obrigou a indústria farmacêutica a dotar os filtros com Persistent Pigment Darkening (PPD).


– O PPD deve ser um terço do FPS. Se o FPS é 30, o PPD deve ser 10 – diz a dermatologista Célia Kalil.Grande parte dos gaúchos, descendentes europeus, não pode usar filtro com FPS inferior a 30.


4 Reaplicar o filtro apenas no rosto

É comum proteger o rosto com filtro e esquecer do resto do corpo – ou não caprichar como deveria na aplicação.


– As pessoas acreditam que só o rosto merece proteção redobrada – diz o cirurgião Felice Riccardi, chefe do Núcleo de Melanoma do Hospital Santa Rita da Santa Casa.


O tipo mais agressivo de câncer de pele, o melanoma, aparece com mais frequência, nas mulheres, nas coxas. Nos homens, é no dorso. A aplicação deve ser generosa em todo o corpo, sem esquecer das mãos, dos pés e das orelhas. Um adulto, à beira-mar, deve usar 30 gramas de protetor (uma xícara de cafezinho) em todo o corpo.


5 Torrar em apenas um final de semana

O corpo leva um tempo para ficar bronzeado. Torrar ao sol em um único fim de semana inteiro é um erro grave.


– A cor não virá, e o risco de queimaduras é muito alto – altera Márcia Donadussi.


Segundo Célia Kalil, expor-se ao sol além da conta em períodos curtos é mais agressivo e predispõe mais ao câncer de pele do que ficar bronzeado o ano inteiro. Essa é uma das explicações para Rio Grande do Sul e Santa Catarina terem a maior incidência de câncer de pele do país. Devido ao clima, gaúchos e catarinenses frequentam as praias – e exageram na dose – no veraneio.


6 Esquecer de proteger os lábios

A pele do rosto costuma atrair toda sorte de cuidados, mas uma região especialmente sensível acaba ficando desprotegida: os lábios.


– Há risco de câncer com potencial agressivo – detalha Célia Kalil.Os mais afetados são os lábios inferiores. Um dos tipos de câncer de pele, o carcinoma epidermoide, aparece com frequência nessa região. Pessoas que fumam e tomam mate diariamente estão mais vulneráveis. Segundo o professor de Medicina da UFRGS Lúcio Bakos, calor crônico de cigarros de palha e das bombas de chimarrão podem se somar às queimaduras do sol, produzindo uma lesão áspera e esbranquiçada, que pode evoluir para o carcinoma.


Para proteger os lábios do sol, esqueça brilhos e a manteiga de cacau, que só lubrificam. Por causa da cor, os batons conferem uma proteção física equivalente ao FPS 4, mas com pouca duração. O mais indicado é optar pelos que contêm filtro solar, com FPS 30, no mínimo. A recomendação também vale para os homens.


7 Preparar-se com autobronzeamento

Os cremes autobronzeadores são os mais indicados para quem quer ficar com a pele bronzeada sem os malefícios do sol. Eles não têm contraindicação e, nos últimos anos, conferem um tom menos alaranjado do que os do passado. Mas não se engane: eles não aumentam a resistência ao sol.


– As mulheres acreditam que, passando autobronzeador, estão preparando a pele para o sol e se expõem com menos proteção. O risco de queimaduras não diminui – alerta Márcia Donadussi.


A maior vantagem do autobronzeador, diz Márcia, é reduzir a necessidade de se expor ao sol. Na praia, com autobronzeado ou sem, o filtro solar volta a ser um item básico.


8 Ficar muito tempo com roupas úmidas

Calor e umidade não combinam, mas é na praia que eles mais se encontram. Ficar com biquíni ou calção molhado ou camisetas suadas por muito tempo abre a porta para o aparecimento de fungos na pele. A situação pode se agravar com o uso tecidos sintéticos, como o náilon.


As doenças de pele causadas por fungos deixam áreas avermelhadas, sensíveis, causam coceira, ardência e podem criar prurido. Para evitar o incômodo, a dermatologista Márcia Donadussi recomenda trocar o biquíni ou o calção molhado, inclusive de crianças, que costumam ficar à sombra e, por isso, permanecem mais tempo com a roupa de banho molhada. Quem faz esportes ao ar livre pode optar por roupas de tecidos que facilitam a transpiração. Geralmente, elas vêm com a inscrição “dry fit” na etiqueta.


9 Não incluir frutas e verduras no prato

Estudos americanos mostram que filtros solares com FPS 15 conseguem bloquear até 94% da radiação ultravioleta. Mas esses 6% que conseguem penetrar na pele podem aumentar a produção dos radicais livres, que causam o envelhecimento cutâneo.


A solução para dirimir os danos está no prato. O mesmo estudo da Universidade de Illinois (EUA) que mostrou a eficácia parcial dos protetores revelou que frutas e verduras com vitamina C e betacaroteno ajudam o organismo a aumentar a resistência natural da pele ao sol. A mais conhecida delas é a cenoura, mas não é a única. Essas substâncias do bem também estão presente na laranja, no mamão e na maioria das verduras.


Ingerir de três a quatro porções diárias de frutas, conforme o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é suficiente para munir as defesas contra os raios ultravioletas. Em alguns casos, você pode apelar para uma suplementação, após uma consulta médica. Mas é sempre mais indicado – e mais gostoso – optar pelos alimentos in natura.


10 Fumar e exagerar na exposição ao sol

Há dois tipos de envelhecimento. Um deles é o natural, que mostra seus sinais com o passar dos anos. O outro tipo vem de fora, oriundo de maus hábitos no dia a dia. No verão, os fumantes estão especialmente mais suscetíveis a agravar as rugas da idade. De acordo com Sérgio Celia, o tabagismo potencializa os efeitos maléficos do sol, e vice-versa:


– Eles não se somam, mas se multiplicam.


É possível notar as consequências da mistura do cigarro com o sol. Uma deles é a sensação de aumento da espessura da pele, uma clara manifestação de como o organismo arma suas defesas contra agentes agressores. Em mulheres, ocorre o surgimento das manchas escuras, especialmente no rosto. O mais comum, porém, é o aparecimento de pequenos sinais brancos e lisos, semelhantes a micoses, nas partes mais expostas ao sol, principalmente nos braços e nas pernas de pessoas mais velhas. Segundo Celia, esse tipo de mancha indica a morte da célula de melanina, o melanócito, devido à constante exposição solar.

Especialistas consultados para esta reportagem: Célia Kalil, Márcia Donadussi, Humberto Ponzio, Lúcio Bakos e Sérgio Celia, dermatologistas, e Felice Riccardi, cirurgião oncologista


Fonte: Caderno Vida - Zero Hora - 02.01.10

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